A expansão do impresso: amplas e múltiplas plataformas.
 

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A expansão do impresso: amplas e múltiplas plataformas.

24 / Maio / 2019

Leia a íntegra da reportagem na versão impressa da Revista Única, do UniBH.

Afinal, o que se entende por uma reportagem transmídia? Embora haja uma ampla teoria sobre as narrativas transmídia, podemos pensá-la a partir do tripé: múltiplas plataformas, expansão de conteúdo e engajamento.

Significa uma reportagem que terá, por exemplo, o conteúdo publicado em uma revista impressa como a Única, com um conteúdo diferenciado online (que você está lendo agora) e em uma perspectiva dialógica, ou seja, buscando o engajamento das pessoas.

No caso desta matéria, começamos em janeiro deste ano, perguntando aos ex-alunos, pelo Facebook, como as tecnologias evoluíram e modificaram suas formas de trabalhar desde os tempos de escola.

A partir das respostas, iniciamos a construção do texto, complementado por relatos online, como da ex-aluna Izabela Lopes.

Algumas contribuições vieram, por exemplo, pelo stories do Instagram, caso do Marcello Oliveira, hoje na Austrália.

Esta expansão em outras plataformas também nos permite, por exemplo, extrapolar os limites do impresso e publicar, na íntegra, a entrevista com o professor Hamilton Flores. Trata-se de importante registro histórico sobre a disciplina de fotografia no curso de Jornalismo do UniBH.

Revista Única: Como eram as aulas de fotografia quando começou sua carreira como professor?

Hamilton Flores: A dinâmica era muito diferente das aulas com o advento da fotografia digital. A fotografia era ministrada no curso de Comunicação Social nas três habilitações existentes: Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas.

A escola tinha bons equipamentos fotográficos analógicos e oferecia estrutura completa para produção fotográfica. Os alunos fotografavam, revelavam e ampliavam as próprias fotografias. O laboratório fotográfico ficava no terceiro andar do prédio onde funcionava a escola, na avenida Antônio Carlos, 521.

Era a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belo Horizonte. Não havia limitação do uso de material fotográfico. A escola disponibilizava filmes feitos pela Kodak. Comprova rolos de filmes com 30 metros e eram rebobinados com 12, 24 e 36 poses. Para preto e branco havia o Panatomic X, com ISO (antigo ASA) de 32, o Plus X, ISO/ASA de 125 e o Tri-X, ISO/ASA 400.

Os filmes eram revelados com os químicos também da Kodak. A fórmula do revelador era a D-76 e o fixador F5. Depois de revelados, os filmes iam secar na estufa. Eram cortados em tiras de seis fotogramas e embalados.  As ampliações feitas em papéis fotográficos Kodabrome em contrastes que variavam dependendo do negativo –  F, F1, F2, F3, F4 e F5.

As ampliações feitas em ampliadores de marcas japonesas. Depois de lavadas as fotos iam para as duas secadeiras de fotos.  A escola possuía um pequeno estúdio fotográfico com luz contínua de tungstênio e, mais tarde, com flashes de estúdio.

Havia também equipamento para fazer reprodução de todo tipo de material. Para medição de luz, existia fotômetro da marca alemã Gossen, modelo Luna Pro.  Os alunos eram divididos em grupos de até seis pessoas e a média de câmera fotográfica era de uma para três alunos.

Os alunos produziam as fotos para o jornal do curso. É bom lembrar que naquela época de 1977 os jornais usavam só fotos em preto e branco. A escola, para alguns trabalhos, oferecia o filme diapositivo Kodak Ektachrome (conhecido como slide colorido). As câmeras eram das marcas Praktica logo substituídas por Pentax Spotimac e Nikon.  A Nikon F2 era a top de linha da marca. Seguiram as N6006 e FM. As objetivas que equipavam as câmeras formadas pelo conjunto de grande angular, normal, e teleobjetiva. Tinha ainda objetiva micro para a Nikon.  Havia uma Minolta STR, que era importada como equipamento   científico, pois vinha com tubo adaptado para foto feita em microscópio, cujo imposto de importação era irrisório. A bibliografia em língua portuguesa era escassa.

RU: Quando a escola começou a incorporar as máquinas digitais e como os alunos reagiram?

HF:  Não tenho certeza do ano que a escola comprou as primeiras câmeras digitais, mas foi por volta de 2003. A era digital foi inaugurada com as Nikon Colpix 900, seguidas das Nikon Colpix 5400. Depois vieram as Nikon DSLR D80 e D90, com conjunto de objetivas cambiáveis – grande angular, normal e teleobjetivas. Também tinha objetivas zoom. Parece incrível, mas os alunos, num primeiro momento, gostavam da fotografia analógica. O processo digital e analógico caminharam juntos. Mas a tecnologia digital oferecia muitas vantagens que deixava o analógico para trás. Tempo e custo.

RU: Quando aconteceu a completa desativação do laboratório de analógico?

HF: O analógico foi sendo desativado devagar. Ainda havia algumas oficinas fotográficas pelo processo analógico, cujo custo era muito elevado se comparado ao processo digital. Em 2000, a escola patrocinou uma oficina no Festival de Inverno de Ouro Preto.  O processo escolhido:  analógico. Foi um sucesso. O tempo de processamento e custo da digital foi um salto enorme em relação ao analógico. Não há comparação. Até para o meio ambiente a digital ajuda.

É bom lembrar que os químicos usados no processo analógico são poluentes. Acabavam indo para os cursos de água. Só para lembrar, saí da escola em dezembro de 2013.

RU: E na sua carreira como fotojornalista? De que maneiras as tecnologias alteraram seu trabalho?

HF: Tempo e custo. Vou dar exemplo em duas atividades que sempre fiz. Uma no futebol, outra no campo teatral. Imagina um jogo de futebol que você usava três filmes de 36 poses cada (108 fotos). Você não via o que saía até o filme ser processado. Os jornais mantinham motociclistas para levar os filmes para serem revelados. Imagina a correria. O leitor queria ver a foto no dia seguinte.

Nas fotos para divulgação de espetáculos teatrais, com o advento da digital, era possível fazer as fotos, descarregar e escolher as imagens no momento seguinte. Tudo muito rápido. Na mesma hora. No processo analógico demorava demais. Digital facilitou minha vida, mas não aumentou o salário.